O comércio internacional apresenta desigualdade. explique de q...

De que maneira a abertura econômica afetou a desigualdade no Brasil? Além da própria importância de se estudar

as causas da desigualdade brasileira, os impactos da abertura sobre a desigualdade condicionam o apoio social e

político a ela.

Contudo, não há apenas uma forma de responder a essa pergunta, a depender do recorte adotado. Algumas

dimensões a se considerar são:

a) a medida de desigualdade: consumo, renda ou salários? Apesar de vantagens das medidas de desigualdade

baseadas em consumo,3

os modelos fazem previsões sobre os preços dos fatores (salários e renda do capital),

e não sobre o consumo. Mesmo considerando os preços dos fatores, dados sobre a renda do capital tendem

a ser subestimados e, quando disponíveis em pesquisas domiciliares ou outras fontes, é difícil relacioná-los

diretamente à abertura. Por isso, é comum o uso de dados sobre salários;

b) abordagem teórica: o modelo mais tradicional é o de Heckscher-Ohlin. Em sua forma mais simples, esse modelo

prevê que os países são exportadores líquidos de bens que utilizem intensivamente o fator de produção nos quais

são relativamente abundantes, aumentando a renda relativa desse fator. Caso consideremos apenas dois fatores

e dois países – trabalho qualificado e trabalho não qualificado, o primeiro abundante nos países desenvolvidos

e o segundo nos países em desenvolvimento –, os países desenvolvidos exportarão bens intensivos em trabalho

qualificado, aumentando a renda relativa desse fator e ampliando a desigualdade; e o oposto ocorrerá nos países

em desenvolvimento, reduzindo a desigualdade. Assim, a abertura comercial representa uma força em direção

ao aumento na renda relativa dos trabalhadores não qualificados e redução da desigualdade nos países em

desenvolvimento. Contudo, o que se constata é que, 23 anos após a Rodada Uruguai, da Organização Mundial

do Comércio (OMC), a desigualdade do trabalho cresceu no mundo todo. Ainda, a maior parte do aumento da

desigualdade salarial deu-se intraindústria – ou seja, contrariando a previsão do modelo de Heckscher-Ohlin

de realocação intersetorial da mão de obra. Uma das hipóteses restritivas do modelo original de HeckscherOhlin é que o comércio internacional é de bens finais. Uma explicação alternativa é a mudança tecnológica

intensiva em mão de obra qualificada induzida pelo comércio internacional (skill-enhancing trade – SET).

A hipótese SET estabelece que a liberalização comercial pode acelerar o fluxo de tecnologias incorporadas nos

bens de capital importados, e esse processo demanda adaptações à produção e à gestão, que são intensivas em

qualificação. Se alguns estágios de produção menos qualificados originários de países desenvolvidos podem

ser exportados para países em desenvolvimento, sendo esses estágios relativamente intensivos em mão de obra

qualificada nos países em desenvolvimento, então o comércio internacional pode aumentar a desigualdade.

Explicação: