A expressão “politicamente correto” (ou incorreto) aplica-se n...

A expressão “politicamente correto” (ou incorreto) aplica-se não apenas à linguagem, embora esta seja a candidata mais constante àquela qualificação, mas a variados campos. Por exemplo, num recente dia dos namorados, um jornal afirma que “casais entram na era do politicamente correto, são fiéis, trocam anéis e fazem sexo responsável”. Uma revista de variedades informou há pouco tempo, que as redes inglesas de TV BBC e Channel 4 tiraram do ar algumas mímicas (p. ex. o dedo em forma de gancho para significar “judeu”, puxar os cantos dos olhos para representar um chinês), que eram utilizadas em programas para surdos-mudos, por julgá-las politicamente incorretas. O movimento em defesa de um comportamento, inclusive linguístico, que seja politicamente correto inclui em especial o combate ao racismo e ao machismo, à pretensa superioridade do homem branco ocidental e a sua cultura pretensamente racional. Estas são, digamos, as grandes questões. Mas o movimento vai além, tentando tornar não marcado o vocabulário (e o comportamento) relativo a qualquer grupo discriminado, dos velhos aos canhotos, dos carecas aos baixinhos, dos fanhos aos gagos, passando por diversos tipos de “doenças” (lepra, Aids etc.). As formas linguísticas estão entre os elementos de combate que mais se destacam, na medida que o movimento acredita (com muita justiça, em princípio) que reproduzem uma ideologia que segrega em termos de classe, sexo, raça e outras características físicas e sociais que são objeto de discriminação, o que equivale a afirmar que há formas linguísticas que veiculam sentidos que evidentemente discriminam (preto, gata, bicha), ao lado de outros que talvez discriminem, mas menos claramente (mulato, denegrir, judiar etc.). Para alguns, este movimento é basicamente um efeito do relativismo e da crise da racionalidade, em especial quando ele ataca valores ligados à cultura clássica. Para outros, é um dos resultados da organização das minorias. É um movimento confuso, com altos e baixos, e comporta algumas teses relevantes, outras extremamente discutíveis e outras francamente risíveis. O exemplo seguinte é interessante para discutir os limites do movimento. Veja-se a carta abaixo, publicada na revista ISTOÉ 1208, de 25.11.92, e a resposta da revista: Sr. Diretor, Sou assíduo leitor desta revista, sempre a tive como grande veículo de comunicação sério e de grande responsabilidade. Porém, na edição 1206, assunto religião, onde vocês comentam a grande importância de Galileu Galilei na história, há um trecho onde lê-se “um dos períodos mais negro (sic) da história”. Devido a essa frase, venho expor meu repúdio e questionamento. No momento em que isso é referido, não há afirmação de que negro é sinônimo de desgraça histórica? (Robson Carlos Almeida, Salvador-BA) ISTOÉ explica: No sentido em que a palavra negro foi usada, ela é tão ofensiva quanto dizer que houve um golpe branco em um determinado país, por exemplo. (Adaptado de POSSENTI, Sírio. Os limites do discurso. Curitiba: Criar, 2002, p. 37-48.). Fonte: Processo seletivo da UFPR/02/07/2006.

04) Qual a ideia principal do texto acima

0 Respostas

Rose está aguardando sua ajuda.

Sua resposta
Ok

Mais perguntas de Filosofia





















Toda Materia
Toda Materia
Toda Materia

Você tem alguma dúvida?

Faça sua pergunta e receba a resposta de outros estudantes.

Escola Educação