Nuno Ramos - Morte das Casas. A obra passa alguma mensagem?​

Após quase três meses em obras, a galeria Celma Albuquerque reabre as suas portas e apresenta, a partir de amanhã, ao público de Belo Horizonte, o projeto mais ambicioso de sua trajetória, que leva ao acessível território da Savassi um trabalho artístico que não deixa nada a dever aos que se situam nos distantes domínios de Inhotim.

Trata-se da instalação "ai, pensei eternas (3 lamas)", criada pelo artista Nuno Ramos a partir de fragmentos de três casas onde viveu. Parcialmente submersas em piscinas de lama, as casas parecem afundar no piso da galeria, remetendo tanto à concreta passagem do tempo quanto às memórias que, com os anos, querendo-se ou não, também acabam se esvaindo.

Em meio ao complexo quadro de inspirações e referências de Nuno para a criação da obra, estão um nostálgico poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado "Morte das Casas de Ouro Preto", e um curioso episódio no qual, após cavar um poço artesiano perto de casa, um homem asiático atingiu um vulcão, provocando uma inundação em toda a região onde vivia.

Ao ser montada na capital mineira, contudo, a poética instalação termina por criar, mesmo que involuntariamente, interessantes conexões com o momento urbanístico da cidade. Nesse sentido, para além de remeter às três casas onde viveu o artista, "ai, pareciam eternas (3 lamas)" potencialmente desperta o olhar do belo-horizontino para as incontáveis casas que, todos os dias, sucessivamente, deixam de existir na cidade, atualmente atravessada por um "boom imobiliário" sem precedentes.

Ainda que essa conexão não estivesse na mira inicial de Nuno, o artista reconhece a possibilidade de que suas memórias afetivas, ligadas às casas onde viveu com a avó, a mãe e a ex-mulher, ativem imprevisíveis lembranças entre os visitantes da galeria - muitos dos quais, certamente, guardam na cabeça imagens de casas que já não frequentam ou mesmo já não existem mais.