Vira e mexe o dinheiro toma na moleira: é o pai da desigualdad...

Vira e mexe o dinheiro toma na moleira: é o pai da desigualdade, mãe da injustiça, filho da ganância, irmão da discórdia, tio do ressentimento, primo (por afinidade) da desilusão. Mas ouso afirmar que há um outro ativo muito mais injusto, pernicioso e mal distribuído a fustigar nossa miserável humanidade: a beleza. A beleza é congênita, aleatória e não meritocrática. Num país minimamente igualitário (não me refiro ao Brasil, claro), um pobre que se esforce bastante tem chances de acabar rico. Já um bebê que vier ao mundo com nariz de Nosferatu, orelhas de Dumbo e dentição do Shrek vai morrer tão feio quanto nasceu. O estado de bem-estar social, a ONU, George Soros ou o Médicos Sem Fronteiras são impotentes diante do feio. O cineasta Luis Buñuel começa sua autobiografia dizendo que ao chegar aos 80 sentiu uma paz inédita. A partir dali, ao cruzar com uma mulher deslumbrante, seguia impávido: estava livre da beleza. Ao contrário do dinheiro que, durante o século XX, aos trancos e barrancos, aqui e ali, foi sendo mais bem distribuído, a beleza concentrou-se. Antes das revistas, do cinema, da televisão, da Internet, a mais bonita do vilarejo era a mais bonita do mundo. Cada cafundó tinha seu Brad Pitt, sua Gisele. Chineses se mediam pelos padrões chineses, Yanomami pelos padrões Yanomami, congoleses pelo congolês. Agora todo mundo é feio, só o Brad Pitt e a Gisele é que não. Pior, mesmo o Brad Pitt e a Gisele são vítimas do esteticismo selvagem: a cada dia que passa, a cada hora, a cada minuto, se afastam do Brad Pitt e da Gisele que foram. O rico velho, se souber aplicar o dinheiro, fica mais rico, mas não existe aplicação para a beleza. Aí vem o século XXI, império do Photoshop e chegamos à miséria absoluta. Até o ser humano considerado mais belo só será belo nas fotos, com filtro, na tela de um celular. Concentramos tanto a beleza que acabamos por extingui-la – o que não deixa de ser, de um modo estranho, certa forma de justiça. PRATA, A. Disponível em: . Acesso em: 13 nov. 2017. [Fragmento] No fragmento, o autor mistura fatos e opiniões para compor seu projeto argumentativo. A passagem em que o teor factual prevalece é: A. “A beleza é congênita, aleatória e não meritocrática.” B. “O estado de bem-estar social, a ONU, George Soros ou o Médicos Sem Fronteiras são impotentes diante do feio.” C. “A partir dali, ao cruzar com uma mulher deslumbrante, seguia impávido: estava livre da beleza.” D. “Antes das revistas, do cinema, da televisão, da Internet, a mais bonita do vilarejo era a mais bonita do mundo.” E. “Aí vem o século XXI, império do Photoshop e chegamos à miséria absoluta.”

1 Resposta

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Ruiva

Letra C

Explicação:

Na passagem “A partir dali, ao cruzar com

uma mulher deslumbrante, seguia impávido: estava livre da

beleza”, o autor apenas relata o que leu na autobiografia

do cineasta Luis Buñuel. Assim, não há juízo de valor, já

que o fragmento não é opinativo, mas factual. A alternativa

correta, então, é a C. Nas passagens das outras alternativas,

o caráter opinativo do texto é preponderante, uma vez que o

posicionamento do autor é marcado, principalmente, pelo uso

dos verbos de ligação “é” e “são”, e dos adjetivos “congênita”,

“impotente”, “bonita” e “absoluta”, entre outros. Dessa forma,

a principal diferença entre os trechos das alternativas é que

na C o autor não exprime sua opinião, já que usa as palavras

de outrem em seu relato.

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