Ninguém o diria. Apreciados como neste momento é possível, ape...

Ninguém o diria. Apreciados como neste momento é possível, apenas de relance, os olhos do homem parecem sãos, a íris apresenta - se nítida, luminosa, a esclerótica branca, compacta como porcelana. As pálpebras arregaladas, a pele crispada da cara, as sobrancelhas de repente revoltas, tudo isso, qualquer o pode verificar, é que se descompôs pela angústia. Num movimento rápido, o que estava à vista desapareceu atrás dos punhos fechados do homem, como se ele ainda quisesse reter no interior do cérebro a última imagem recolhida, uma luz vermelha, redonda, num semáforo. Estou cego, estou cego, repetia com desespero enquanto o ajudavam a sair do carro, e as lágrimas, rompendo, tomaram mais brilhantes os olhos que ele dizia estarem mortos. Isso passa, vai ver que isso passa, às vezes são nervos, disse uma mulher. (…)O cego implorava, Por favor, alguém que me leve a casa. A mulher que falara de nervos foi de opinião que se devia chamar uma ambulância, transportar o pobrezinho ao hospital, mas o cego disse que isso não, não queria tanto, só pedia que o encaminhassem até à porta do prédio onde morava, Fica aqui muito perto, seria um grande favor que me faziam. E o carro, perguntou uma voz. (…)O cego sentiu que o tomavam pelo braço, (…)Não vejo, não vejo, murmurava entre o choro, Diga - me onde mora, pediu o outro. Pelas janelas do carro espreitavam caras vorazes, gulosas da novidade. O cego ergueu as mãos diante dos olhos, moveu - as, Nada, é como se estivesse no meio de um nevoeiro, é como se tivesse caído num mar de leite, Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira dizem que é negra, Pois eu vejo tudo branco, (…) Diga - me onde mora, por favor, ao mesmo tempo ouviu - se o arranque do motor.(…) Estranhou que continuassem parados, Por que é que não andamos, perguntou, O sinal está no vermelho, respondeu o outro, Ah, fez o cego, e pôs - se a chorar outra vez. A partir de agora deixara de poder saber quando o sinal estava vermelho. O fragmento anterior é um trecho do livro Ensaio sobre a cegueira, famosa obra do autor português José Saramago. Na apresentação das falas dos personagens,

A) A ausência de pontuação demarcadora de discurso direto é intencional
B) A ausência de pontuação demarcadora de discurso direto é intencional
c) A repetição da oração Estou cego explicita uma neutralidade emocional do personagem retratado
d) O diminutivo pobrezinho é empregado para indicar uma ironia
e) o questionamento feito na penúltima linha indica uma pergunta indireta​

0 Respostas

Shaday está aguardando sua ajuda.

Sua resposta
Ok

Mais perguntas de Português





















Toda Materia
Toda Materia
Toda Materia

Você tem alguma dúvida?

Faça sua pergunta e receba a resposta de outros estudantes.

Escola Educação