Era uma vez uma mãe... que tinha medo de lagartixa. No resto,...
Era uma vez uma mãe... que tinha medo de lagartixa. No resto, era valente: ficava sozinha, cantava no escuro, tomava sopa quente.
Era mesmo corajosa: enfrentava barata, discutia com o chefe, tomava injeção toda prosa.
De bicho de pena e de bicho de pelo, ela gostava muito. Filho dela podia ter cachorro, gato, coelho, periquito, curió, canário, porquinho-da-índia.
Nem que fosse tudo ao mesmo tempo, ela não se incomodava, até animava, mais ainda inventava.
Peixe e jabuti, também, ela deixava como ninguém. E tinha aquário redondo com peixe vermelho e tinha varanda vermelha com jabuti redondo.
Se os filhos descobrissem macaco com asa, ela era capaz de deixar em casa. Se para uma vaca encontrassem lugar, não ia ser ela quem ia atrapalhar.
Se na área um cavalo coubesse direito, a meninada ia logo dar jeito, e ela na certa ia achar perfeito.
Mas sapo? Minhoca? Perereca? Camaleão?
Nem queria saber. Disfarçava e ia se esconder.
Os filhos explicavam:
— Mamãe, que é que tem? Um bicho tão bonzinho, não faz nada, olha aí!
Ela olhava. Mas não gostava.
E aqueles lagartinhos nas pedras-do-sol?
— Um bichinho à-toa, mãe, deixe de ser boba!
Mas aí ela era boba. Tão boba que no caminho da praia, pelo meio do matinho, ia pisando forte e falando alto, fazendo barulho só para assustar os lagartinhos – que saíam correndo, morrendo de medo de uma mulher tão grande e barulhenta.
Mas o medo maior era o que a mãe tinha de lagartixa.
— Um perigo dentro de casa!
Pode atacar a qualquer instante!
— Atacar, mãe? Que ideia – ria Antônio.
— Que gracinha, mãe. Olha aquela lagartixa lá no alto da parede – mostrava João.
— É mesmo, branquinha e transparente, de cabeça em pé. Parece filhote de jacaré –
dizia Luísa. Não adiantava. Ela não gostava.
Um dia, resolveram pregar uma peça nela.
Na saída da escola, tinha um vendedor de bala, estalinho, pirulito e brinquedo. Brinquedos gozados: baratas e aranhas de plástico, lagartixas de mentirinha. Compraram duas e levaram para casa. Puseram uma na gaveta, outra na prateleira, ao lado.
Quando ela chegou do trabalho e foi mudar a roupa, foi um susto. Quer dizer, primeiro foi um:
— Ai! Me ajudem! Antônio! Luísa! João!
Depois foram dois sustos:
— Depressa! Vem cá todo mundo! Os meninos foram correndo. E viram a mãe tremendo.
— Uma lagartixa horrorosa! Subiu pelo meu braço e correu para a gaveta!
E tem outra medonha ali na prateleira... Pelo amor de Deus, vocês peguem esses bichos horríveis, que eu não aguento nem ver!
Os meninos se olharam enquanto ela saía:
— E lagartixa de brinquedo sobe pelo braço?
— Será que tem alguma de verdade?
Olharam bem. Não tinha. Só as mesmas, de brinquedo. E ela com tanto medo! Que mãe fiteira! E, ainda por cima, inventadeira...
Foram rir dela, numa grande gozação: mas chegaram na sala e não riram. Porque o que ela falou foi assim:
— Que bom que vocês estavam em casa. Vocês são tão corajosos... Fico tão orgulhosa de meus filhos que não têm medo e tomam conta de mim...
E, sentada no sofá, abraçou os três ao mesmo tempo, fechou os olhos, encostou a cabeça neles, feito menina pequena.
E eles se olharam e entenderam.
Todo mundo tem seu medo, cada um tem seu segredo. Quem parece sempre forte, no fundo é meio sem sorte: tem que aguentar bem sozinho, sem ajuda nem carinho:
— A mãe é que nem a gente. E gente se assusta, chora, ri, fala, inventa, conta, grita e cochicha.
E pode até ter medo de lagartixa.
Alguns medos e seus segredos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira.
Sobre o texto, marque a resposta correta:
1 - Marque a alternativa em que a mãe estimula seus filhos a terem bicho:
A) “enfrentava barata, discutia com o chefe”.
B) “ela não se incomodava, até animava.”
C) “se os filhos descobrissem macaco com asa, ela era capaz de deixar em casa.”
D) “de bicho de pena e de bicho de pelo, ela gostava muito.”
E) “peixe e jabuti, também, ela deixava como ninguém”
2 - “Que mamãe fiteira” (l. 49/50), marque a alternativa que não tem a palavra com o mesmo valor semântico de fiteira:
A) manhosa B) fingida C) medrosa D) astuta
3 - Marque a alternativa em que os fatos abaixo estejam colocados em ordem cronológica:
I - Os filhos verificaram se havia uma lagartixa de verdade.
II - Os filhos viram a mãe tremendo.
III - Os filhos correram até o quarto da mãe.
IV - Os filhos ficaram se olhando.
A) I, IV, III, II
B) III, IV, II, I
C) I, III, IV, II
D) III, II, IV, I
E) II, IV, III, I
4- A mãe, depois de ter encontrado a lagartixa, foi para a sala. Os filhos, de acordo com o texto, entenderam que:
A) cada um tem o seu próprio medo.
B) envergonharam-se do que tinham feito.
C) a mãe, sendo igual a eles, era infantil.
D) é preciso ser forte diante das situaçõesç
Era mesmo corajosa: enfrentava barata, discutia com o chefe, tomava injeção toda prosa.
De bicho de pena e de bicho de pelo, ela gostava muito. Filho dela podia ter cachorro, gato, coelho, periquito, curió, canário, porquinho-da-índia.
Nem que fosse tudo ao mesmo tempo, ela não se incomodava, até animava, mais ainda inventava.
Peixe e jabuti, também, ela deixava como ninguém. E tinha aquário redondo com peixe vermelho e tinha varanda vermelha com jabuti redondo.
Se os filhos descobrissem macaco com asa, ela era capaz de deixar em casa. Se para uma vaca encontrassem lugar, não ia ser ela quem ia atrapalhar.
Se na área um cavalo coubesse direito, a meninada ia logo dar jeito, e ela na certa ia achar perfeito.
Mas sapo? Minhoca? Perereca? Camaleão?
Nem queria saber. Disfarçava e ia se esconder.
Os filhos explicavam:
— Mamãe, que é que tem? Um bicho tão bonzinho, não faz nada, olha aí!
Ela olhava. Mas não gostava.
E aqueles lagartinhos nas pedras-do-sol?
— Um bichinho à-toa, mãe, deixe de ser boba!
Mas aí ela era boba. Tão boba que no caminho da praia, pelo meio do matinho, ia pisando forte e falando alto, fazendo barulho só para assustar os lagartinhos – que saíam correndo, morrendo de medo de uma mulher tão grande e barulhenta.
Mas o medo maior era o que a mãe tinha de lagartixa.
— Um perigo dentro de casa!
Pode atacar a qualquer instante!
— Atacar, mãe? Que ideia – ria Antônio.
— Que gracinha, mãe. Olha aquela lagartixa lá no alto da parede – mostrava João.
— É mesmo, branquinha e transparente, de cabeça em pé. Parece filhote de jacaré –
dizia Luísa. Não adiantava. Ela não gostava.
Um dia, resolveram pregar uma peça nela.
Na saída da escola, tinha um vendedor de bala, estalinho, pirulito e brinquedo. Brinquedos gozados: baratas e aranhas de plástico, lagartixas de mentirinha. Compraram duas e levaram para casa. Puseram uma na gaveta, outra na prateleira, ao lado.
Quando ela chegou do trabalho e foi mudar a roupa, foi um susto. Quer dizer, primeiro foi um:
— Ai! Me ajudem! Antônio! Luísa! João!
Depois foram dois sustos:
— Depressa! Vem cá todo mundo! Os meninos foram correndo. E viram a mãe tremendo.
— Uma lagartixa horrorosa! Subiu pelo meu braço e correu para a gaveta!
E tem outra medonha ali na prateleira... Pelo amor de Deus, vocês peguem esses bichos horríveis, que eu não aguento nem ver!
Os meninos se olharam enquanto ela saía:
— E lagartixa de brinquedo sobe pelo braço?
— Será que tem alguma de verdade?
Olharam bem. Não tinha. Só as mesmas, de brinquedo. E ela com tanto medo! Que mãe fiteira! E, ainda por cima, inventadeira...
Foram rir dela, numa grande gozação: mas chegaram na sala e não riram. Porque o que ela falou foi assim:
— Que bom que vocês estavam em casa. Vocês são tão corajosos... Fico tão orgulhosa de meus filhos que não têm medo e tomam conta de mim...
E, sentada no sofá, abraçou os três ao mesmo tempo, fechou os olhos, encostou a cabeça neles, feito menina pequena.
E eles se olharam e entenderam.
Todo mundo tem seu medo, cada um tem seu segredo. Quem parece sempre forte, no fundo é meio sem sorte: tem que aguentar bem sozinho, sem ajuda nem carinho:
— A mãe é que nem a gente. E gente se assusta, chora, ri, fala, inventa, conta, grita e cochicha.
E pode até ter medo de lagartixa.
Alguns medos e seus segredos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira.
Sobre o texto, marque a resposta correta:
1 - Marque a alternativa em que a mãe estimula seus filhos a terem bicho:
A) “enfrentava barata, discutia com o chefe”.
B) “ela não se incomodava, até animava.”
C) “se os filhos descobrissem macaco com asa, ela era capaz de deixar em casa.”
D) “de bicho de pena e de bicho de pelo, ela gostava muito.”
E) “peixe e jabuti, também, ela deixava como ninguém”
2 - “Que mamãe fiteira” (l. 49/50), marque a alternativa que não tem a palavra com o mesmo valor semântico de fiteira:
A) manhosa B) fingida C) medrosa D) astuta
3 - Marque a alternativa em que os fatos abaixo estejam colocados em ordem cronológica:
I - Os filhos verificaram se havia uma lagartixa de verdade.
II - Os filhos viram a mãe tremendo.
III - Os filhos correram até o quarto da mãe.
IV - Os filhos ficaram se olhando.
A) I, IV, III, II
B) III, IV, II, I
C) I, III, IV, II
D) III, II, IV, I
E) II, IV, III, I
4- A mãe, depois de ter encontrado a lagartixa, foi para a sala. Os filhos, de acordo com o texto, entenderam que:
A) cada um tem o seu próprio medo.
B) envergonharam-se do que tinham feito.
C) a mãe, sendo igual a eles, era infantil.
D) é preciso ser forte diante das situaçõesç
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