— D. Amália — dizia ele, tratando-a com cerimônia na esperança...

— D. Amália — dizia ele, tratando-a com cerimônia na esperança de que ela se imbuísse da necessidade de atendê-lo —, o menino vai com a senhora, mas

sob uma condição. A senhora não vai deixar que ele fique o dia inteiro deitado,

cercado de bolachinhas e docinhos e lendo essas coisas que a senhora lê.

— Senhor doutor — respondia minha avó —, sou avó deste menino e tua mãe.

Se te criei mal, Deus me perdoe, foi a inexperiência da juventude. Mas este cá

ainda pode ser salvo e não vou deixar que tuas maluquices o infelicitem. Levo

o menino sem condição nenhuma e, se insistes, digo-te muito bem o que podes

fazer com tuas condições e vê lá se não me respondes, que hoje acordei com a

ciática e não vejo a hora de deitar a sombrinha ao lombo de um que se atreva a

chatear-me. Passar bem, Senhor doutor.

E assim eu ia para a casa de minha avó Amália, onde ela comentava mais uma

vez com meu avô como o filho estudara demais e ficara abestalhado para a

vida, e meu avô, que queria que ela saísse para poder beber em paz a cerveja

que o médico proibira, tirava um bolo de dinheiro do bolso e nos mandava

comprar umas coisitas de ler — Amália tinha razão, se o menino queria ler, que

lesse, não havia mal nas leituras, havia em certos leitores. E então saíamos

gloriosamente, minha avó e eu, para a maior banca de revistas da cidade, que

ficava num parque perto da casa dela e cujo dono já estava acostumado

àquela dupla excêntrica.

Um brasileiro em Berlim. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

1) Nesse trecho, o autor relembra um deslocamento que costumava

acontecer nas férias escolares. Ele ia de onde para onde?​

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