Joaquim José da Silva Xavier, conhecido pelo apelido de “Tiradentes”, foi um dos principais nomes da Inconfidência Mineira: revolta separatista que tinha por objetivo proclamar a República na capitania de Minas Gerais. Muitas são as controvérsias em torno desse personagem presente no imaginário brasileiro até hoje. A seguir, saiba mais!

Quem foi Tiradentes: o Cristo cívico brasileiro

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Nascido na Vila de São José, em 12 de novembro de 1746, na capitania de Minas Gerais, Joaquim José da Silva Xavier teve uma vida bastante conturbada. Quando estava com 11 anos, seus pais, Domingos da Silva Santos, português, e Maria Antônia da Encarnação Xavier, brasileira, morreram. Assim, Tiradentes foi criado pelo seu padrinho, na região de Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto.

Sua formação no âmbito do trabalho foi bastante diversa, atuando como mascate, tropeiro, militar, minerador, entre outras funções. Entretanto, a ocupação que mais marcou a trajetória de Joaquim José foi a de dentista amador, por isso, o apelido de “Tiradentes”. Ele ficou muito conhecido por ter participado da Inconfidência Mineira.

Tiradentes e a Inconfidência mineira: um movimento movido pelo descontentamento

Um fato merece atenção para compreender o envolvimento de Tiradentes com a Inconfidência Mineira: em setembro de 1788, com a sua volta para Minas Gerais, visto que ele passou um ano no Rio de Janeiro, foi instituído o derrama, que cobrava todos os impostos atrasados. Esse seria um ponto-chave para os revoltosos.

Em meio a tantas insatisfações políticas e econômicas, Tiradentes, ao lado de nomes importantes, fazia propaganda em prol da Independência do Brasil. A primeira reunião, para discutir as insatisfações políticas e partilhar dos ideais republicanos, aconteceu na casa do Tenente-Coronel Paula Freire. Compareceram: o Padre Carlos Correia de Toledo e Melo, Cláudio Manuel, Tomás Antônio Gonzaga e Inácio José de Alvarenga Peixoto.

Os ideais republicanos da Inconfidência foram levados tão a sério que os revoltosos chegaram a projetar uma constituição própria baseada, especialmente, nos ideais e princípios iluministas. Somado a isso, Tiradentes chega a propor uma bandeira para a tão sonhada Nova República, que seria um triângulo vermelho com fundo branco simbolizando a Santíssima Trindade.

Delação, Prisão e Moerte de Tiradentes

Em 15 de março de 1789, o coronel Silvério dos Reis, fazendeiro e minerador, em troca de perdão para as dezenas de dívidas em seu nome, delata os revoltosos. Assim, ele é enviado para capturar Tiradentes, que se encontrava no Rio de Janeiro recrutando novos integrantes.

Tiradentes é preso, na casa de Domingos Fernandes da Cruz, no dia 10 de maio de 1789. Alguns dias depois, outros revoltosos também foram detidos. Em 22 de maio do mesmo ano, ele é interrogado pela primeira vez. Já em 18 de janeiro de 1790, após muitas interrogações, Tiradentes confessa total responsabilidade. Sem exceção, todos do movimento foram destituídos de seus bens, condenados à morte, ao degredo perpétuo ou à prisão.

Em abril do mesmo ano, a rainha D. Maria I indicia Tiradentes à morte por enforcamento. Ele foi levado até o Largo da Lampadosa, região do Rio de Janeiro, e foi morto no dia 21 de abril. Conforme retrata, parcialmente, a pintura “Tiradentes Esquartejdo”, de Pedro Américo, Tiradentes teve seu corpo esquartejado, sua cabeça exposta em Vila Rica e seus membros fincados nos postes que ficavam no caminho entre Minas e Rio de Janeiro.

A heroicização de Tirandentes: a criação de um mito nacional

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As construções dos mitos nacionais estão entrelaçadas com um contexto e uma dinâmica histórica específica. Pelo menos, é o que evidencia a experiência histórica do Brasil. Assim, para entender o motivo de Tiradentes ter se tornado um herói brasileiro, é preciso considerar a ausência de um sentimento nacional, isto é, de um povo brasileiro.

A ausência do sentimento de unidade surgiu com o processo da Guerra do Paraguai, conforme afirmam alguns estudiosos. Até então, o “Brasil” era um país sem heróis, sem um mito fundador. Muitos indivíduos chegaram, até mesmo, a exigir a volta do imperador Dom Pedro II e da família real, que precisaram criar símbolos e mitos para legitimar o seu regime no imaginário brasileiro.

Segundo os historiadores, havia uma antipatia popular pelo regime recém-proclamado, muitos nem sabiam da sua existência. Isso levou os republicanos a legitimarem a República por meio dos símbolos cívicos, criando também heróis para o “novo país”. O único que se formou como símbolo do heroísmo nacional foi Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes). Para os republicanos, ele conseguia condensar os ideais do novo regime.

Após a proclamação, intensificou-se o culto cívico ao Tiradentes, retratado como um Cristo nacional. Assim, Em 1890, 21 de abril foi declarado feriado nacional. Com o tempo, Tiradentes se tornou o Cristo cívico-religioso, o mártir e o libertador civil. O símbolo de uma pátria que nem ao menos o conhecia, exceto pela manipulação do imaginário social.

Vídeos sobre a história de um mito nacional

Com o objetivo de complementar o conhecimento estudado até aqui, confira alguns vídeos sobre a biografia de Tiradentes, bem como as criações simbólicas em torno dele.

Toda nação precisa de um herói

Nesse vídeo, o historiador Eduardo Bueno fala sobre como a figura de Tiradentes foi forjada para atender a necessidade nacional de um mito. Com esse tema, percebe-se que o tempo presente é fruto de narrativas construídas no passado.

Tiradentes e sua Atuação na Inconfidência Mineira

Nesse vídeo, confira a biografia de Tiradentes e o que realmente motivou sua condenação na Inconfidência Mineira.

A história do mártir da Independência

Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, foi um mártir da Inconfidência Mineira. Entretanto, até que ponto a imagem heroica foi fabricada e construída pelos republicanos de 1889? Assista ao vídeo para entender tudo o que estava envolvido no contexto.

Toda nação precisa de mitos nacionais, a questão principal é investigar como esses mitos são fabricados no tempo. Gostou da matéria? Então, não deixa de compartilhar com seus amigos! Para conhecer mais sobre outro movimento histórico que influenciou fortemente a atuação de Tiradentes, confira o que foi o Iluminismo.

Referências

A Formação das almas: O imaginário da República no Brasil (2017) – José Murilo de Carvalho
O Tiradentes: Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier (2018) – Lucas Figueiredo

Exercícios resolvidos

1. [PUC-RIO]

A partir de seus conhecimentos sobre a Conjuração Mineira (1789), EXAMINE as afirmativas abaixo:

I – Inspirados pelas idéias iluministas, os conjurados mineiros defenderam a liberdade do comércio e a independência da região das minas.

II – Dentre os grupos sociais envolvidos no movimento, destacaram-se os proprietários de lavras e de terras, oficiais militares, clérigos, letrados e escravos.

III – O exemplo da possibilidade de quebra do vínculo colonial representado pela independência das Treze Colônias exerceu influência entre aqueles que planejaram a conspiração.

IV – O declínio da exploração aurífera, na segunda metade do século XVIII, ao lado da iminente cobrança da derrama foram fatores que contribuíram para aumentar a insatisfação dos colonos mineiros com a Coroa portuguesa.

ASSINALE a alternativa correta:

A) Somente as afirmativas I e II estão corretas.

B) Somente as afirmativas I e III estão corretas.

C) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.

D) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.

E) Todas as afirmativas estão corretas.

D) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.

Esse conjunto de fatores fundamentou cada ação e intenção dos participantes da Inconfidência, demonstrando, sobretudo, o peso que as ideias podem ter na vida e ação dos indivíduos em um dado contexto histórico.

2. [UFMG]

Leia este trecho, que contém uma fala atribuída a Joaquim José da Silva Xavier:

“… se por acaso estes países chegassem a ser independentes, fazendo as suas negociações sobre a pedraria pelos seus legítimos valores, e não sendo obrigados a vender escondido pelo preço que lhe dessem, como presentemente sucedia pelo caminho dos contrabandos, em que cada um vai vendendo por qualquer lucro que acha, e só os estrangeiros lhe tiram a verdadeira utilidade, por fazerem a sua negociação livre, e levado o ouro ao seu legítimo valor, ainda ficava muito na Capitania, e escusavam os povos de viver em tanta miséria.”

(Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. 2. ed. Brasília: Câmara dos Deputados; Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1980. v. 5, p. 117.)

A partir dessa leitura e considerando-se outros conhecimentos sobre o assunto, é CORRETO afirmar que os Inconfidentes Mineiros de 1789:

A) acreditavam que o contrabando aumentava o valor recebido pelas pedras e ouro, pois dificultava sua circulação.

B) consideravam que o monopólio comercial explicava por que as regiões de que se compunha Minas Gerais, cheias de pedras e ouro, ficavam mais ricas.

C) defendiam o livre-comércio, por meio do qual pedras e ouro adquiririam seu real valor, uma vez que seriam vendidos aos estrangeiros legalmente.

D) pensavam que os estrangeiros poderiam tirar vantagens do livre-comércio das pedras e ouro, visando a aumentar seus lucros.

C) defendiam o livre-comércio, por meio do qual pedras e ouro adquiririam seu real valor, uma vez que seriam vendidos aos estrangeiros legalmente.

A aversão às imposições de impostos colocados pela Coroa Portuguesa foi um dos motivos que moveu os integrantes da Inconfidência Mineira, dentre eles o próprio Tiradentes.

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