A Guerra do Paraguai foi o maior conflito militar ocorrido na história da América. Esse grande confronto armado aconteceu entre outubro de 1864 e março de 1870, quando a aliança entre o Brasil, o Uruguai e a Argentina, obteve vitória sobre o Paraguai. Apesar de não ser um tema tão discutido atualmente, a Guerra do Paraguai produziu consequências que duram até hoje.
Contexto histórico
No período colonial, diversos territórios motivaram grandes disputas entre espanhóis e portugueses, como a região da bacia da Prata. No início do século XIX, com a formação dos Estados Nacionais independentes em diversas áreas da América hispânica, as disputas assumiram novas dimensões.
No ano 1850, o governo argentino, governado pelo presidente Juan Manuel de Rosas, ainda não havia reconhecido a independência do Paraguai, que deixou o antigo Vice-Reino da Prata no ano 1811, sem reconhecer a junta do governo formada em Buenos Aires no ano anterior.
Simultaneamente, o presidente argentino cultivava interesses políticos para exercer influência no Uruguai, onde apoiava o Partido Blanco, em oposição ao Partido Colorado. Contudo, o presidente enfrentou a oposição dos federalistas argentinos, apoiados pelo general Urquiza. Em 1851, o governo brasileiro apoiou Urquiza, aliando-se também ao governo paraguaio e ao Partido Colorado do Uruguai e declarando guerra à Argentina.
No ano 1852, o governo de Rosas foi derrubado pelas forças brasileiras e militares de Urquiza, permitindo que Partido Colorado assumisse o poder no Uruguai. Em Buenos Aires, o general Urquiza, eleito presidente, reconhecia a soberania e independência do Paraguai.
No entanto, meio ao aparente equilíbrio e respeito mútuo entre essas nações recém-independentes e ao Império do Brasil, surgiu a Guerra do Paraguai. A partir disso, na segunda metade do século XIX, o governo do Brasil, da Argentina e do Uruguai formou uma aliança contra o Paraguai, gerando um dos maiores conflitos já existentes na história.
Motivos da guerra do Paraguai
Antes de falar sobre os motivos que contribuíram para o conflito, é necessário ter em mente que toda história escrita – historiografia – é fruto de um recorte temporal, assim como das ideias que prevalecem nesse determinado momento. Disto isso, é importante mencionar que não existe um consenso entre os historiadores sobre as causas do conflito.
Para entender a Guerra do Paraguai, é preciso passar por uma análise de quatro movimentos historiográficos precedentes – muito distintos entre si – que contemplam a fundo este conflito. Aqui, será necessário destacar apenas as duas interpretações mais recentes.
A primeira interpretação sobre os motivos que ocasionaram a disputa foi produzida por diferentes autores. Dentre eles, Júlio José Chiavenato, que enfatiza a importância do desenvolvimento econômico independente do Paraguai. Segundo os autores, esse processo de evolução econômica paraguaio prejudicava os interesses da Inglaterra na região. Por esse motivo, os ingleses teriam induzido brasileiros, argentinos e uruguaios a se lançarem a uma guerra contra o Paraguai para impedir o desenvolvimento econômico do país.
A segunda interpretação, mais aceita entre os historiadores, é a de Francisco Doratioto. Segundo o autor, a Guerra do Paraguai tem relação com a necessidade de afirmação e consolidação dos Estados nacionais da região da bacia da Prata. Um dos desdobramentos dessas consolidações seria a ocorrência de disputas locais entre eles, o que resultou na guerra contra o Paraguai.
Principais acontecimentos
No mês de novembro de 1864, forças militares brasileiras invadiram o Uruguai visando derrubar o presidente Atanásio Aguirre, do Partido Blanco, visto que este havia voltado ao poder. Essa intervenção visou colocar Venâncio Flores, líder dos colorados, na regência da nação uruguaia.
Diante da intervenção brasileira, o presidente paraguaio Solano López, que apoiava os blancos, rompeu relações diplomáticas com o Brasil, proibindo a navegação brasileira pelo rio Paraguai. Em dezembro do mesmo ano, uma embarcação brasileira que navegava em direção a Cuiabá foi aprisionada. Em janeiro de 1865, forças militares paraguaias invadiram o Mato Grosso e, em abril, a invasão prosseguiu para duas províncias argentinas.
A tomada do Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), ocorreu em 26 de dezembro de 1864 e contou com 7.700 soldados paraguaios que, sem muitas dificuldades, derrotaram o pequeno exército brasileiro na região. A região ficou sob posse paraguaia até meados de 1868.
Após esse processo de tomada de território, Solano López enviou suas tropas em direção ao Rio Grande do Sul e ao Uruguai para ajudar os blancos na guerra contra as forças brasileiras e coloradas. Para isso, as tropas paraguaias precisaram passar por Corrientes, mas a possibilidade foi negada pelo presidente argentino – Mitre –, diante de sua aliança com os colorados. Consequentemente, não demorou muito para Solano López declarar guerra à Argentina, invadindo Corrientes.
Criação da Tríplice Aliança
Em maio, os governos do Brasil, do Uruguai e da Argentina uniram-se contra Solano López e criaram a Tríplice Aliança, contando com ajuda militar e financeira do governo inglês. Assim, desenvolveu-se a Guerra do Paraguai, a guerra mais sangrenta da história da América do Sul.
Entre muitas ameaças e investidas militares, o ataque paraguaio ao Rio Grande do Sul e à região argentina de Corrientes terminou num grande fracasso paraguaio. A partir dessa primeira derrota, que ocorreu na segunda metade de 1865, o Paraguai assumiu uma postura altamente defensiva no conflito.
Para aproveitar a posição tomada pelas tropas paraguaias, os países membros da Tríplice Aliança investiram em ataques contra as forças militares paraguaias. Muitos foram os conflitos naquele momento, como a batalha do Riachuelo (junho de 1865), a de Tuiuti (maio de 1866), a de Curupaiti (setembro de 1866) e a batalha do Avaí, travada em dezembro de 1866.
Durante a guerra, a disputa considerada decisiva foi Batalha Naval de Riachuelo, travado pela marinha brasileira e as frotas navais paraguaias, que foram destruídas. Isso favoreceu o controle da região das águas platinas pelas forças brasileiras e dificultou o abastecimento de novos mantimentos ao Paraguai, necessários para o seguimento da guerra vigente.
Segundo o historiador Francisco Doratioto, a continuidade da guerra se deu por fatores ligados à comunicação entre os líderes das tropas da Tríplice Aliança, a falta de conhecimento acerca da geografia do território paraguaio e a grande adesão dos paraguaios em participar do exército no momento de conflito.
Apesar da posição defensiva dos paraguaios, eles conseguiram resistir às disputas contra a Tríplice Aliança, derrotando as forças brasileiras na batalha de Curupaiti, em que cerca de nove mil soldados brasileiros morreram.
Fim da Guerra do Paraguai
O conflito terminou no ano 1870, com a morte de Solano López e a consequente vitória dos países membros da Tríplice Aliança. O esgotamento das tropas paraguaias diante das sucessivas derrotas contribuiu significativamente para o fim da guerra.
Após a invasão da região de Assunção em 1° de janeiro de 1869, a guerra foi se ofuscando lentamente. O exército brasileiro, liderado pelo militar Luís Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias), caçou incessantemente Solano López. No entanto, a partir dos meses finais de 1869, liderados pelo Conde d’Eu – favorável à continuação da guerra –, em março de 1870, os militares brasileiros mataram o ditador paraguaio na batalha de Cerro Corá, pondo fim à Guerra contra o Paraguai.
Consequências da Guerra do Paraguai
As disputas acerca da Guerra do Paraguai produziram diversas consequências políticas, econômicas, territoriais e, sobretudo, milhares de mortes durante cinco anos de conflito.
Com 96% dos homens e 55% das mulheres mortos, a nação paraguaia foi arrasada pela guerra. Após a guerra, o Paraguai que, anteriormente, contava com uma população de 800 mil habitantes, contabilizou apenas 194 mil habitantes em seu território e cerca de 140 mil km² de suas terras passou para o domínio do Brasil e da Argentina. A nação paraguaia só não perdeu mais território para a Argentina devido à defesa de sua soberania pelo governo brasileiro.
As consequências da guerra para a Argentina resultaram na consolidação de seu território e na derrota dos federalistas. Para o Uruguai houve a consolidação territorial somada à superação do conflito entre blancos e colorados; o Uruguai contou com mais de 3 mil soldados mortos no fim do conflito.
No caso do Brasil, houve uma grande instabilidade econômica, tendo em vista que o Brasil gastou 11 vezes mais o orçamento anual do país em 1864. Por isso, ao longo do conflito, a presença inglesa na economia se tornou ainda mais forte devido aos empréstimos feitos pelo Brasil. Para ter uma maior dimensão, o governo inglês Rotschild emprestou cerca 5 milhões de Libras esterlinas ao Brasil para a guerra.
Mesmo após a guerra, o Brasil continuou recorrendo aos ingleses para mais empréstimos. Junto a isso, o governo de Dom Pedro II precisou emitir papel-moeda e aumentar suas importações, causando um alto nível de inflação no país. Além disso, houve um crescimento na oposição ao governo e ao próprio Dom Pedro, somado ao fato de que, após a guerra, o exército brasileiro de institucionalizou marcando o início da derrocada da monarquia brasileira.
Resumo: A Guerra do Paraguai
Que tal aprender sobre a Guerra do Paraguai de forma ainda mais resumida? Confira abaixo os principais momentos do desenrolar desse conflito.
- A Guerra do Paraguai foi um conflito de ordem militar ocorrido entre os anos 1864 e 1870;
- Os países envolvidos no conflito foram: Brasil, Argentina e Uruguai (a Tríplice Aliança) contra o Paraguai.
- A Guerra se desenvolveu num cenário de consolidação dos Estados Nacionais;
- O estopim da guerra ocorreu quando o Brasil interferiu nas disputas políticas em torno do governo uruguaio;
- Com a intervenção brasileira, o presidente paraguaio Solano López, que apoiava os blancos, rompeu relações diplomáticas com o Brasil;
- Em seguida, Solano López declarou guerra à Argentina, invadindo Corrientes.
- Em maio, os governos do Brasil, do Uruguai e da Argentina se uniram contra Solano López e criaram a Tríplice Aliança, contando com ajuda militar e financeira do governo inglês
- O conflito terminou em 1870, com a morte de Solano López e a consequente vitória dos países membros da Tríplice Aliança;
Esse resumo reflete apenas as principais características e momentos importantes desse processo histórico. E claro, ele será melhor compreendido caso você conheça mais a fundo a própria Guerra do Paraguai.
Mapa mental
Como forma de resumir todo esse processo histórico complexo, marcado por tantas disputas e interesses, confira abaixo um mapa mental esquemático para facilitar e otimizar os seus estudos:
Gostou desse esquema visual bem resumido? A seguir, assista a alguns vídeos para contribuir ainda mais no seu entendimento em torno do tema.
Vídeos sobre a Guerra do Paraguai
Confira alguns vídeos para entender um pouco mais sobre o assunto e ter maior dimensão diante de um dos maiores conflitos ocorridos na América Latina:
O contexto geral da Guerra do Paraguai
Neste vídeo, o canal “DGP Mundo” apresenta, de forma lúdica e didática, os antecedentes e contexto histórico geral da Guerra do Paraguai. Assista e descubra mais fatos sobre a história.
A Guerra do Paraguai em detalhes!
Acima, a historiadora Débora Aladim vai até a região de Dourados, Ponta Porã (Mato Grosso do Sul) e Cerro Corá (Paraguai), um dos cenários da Guerra do Paraguai. No vídeo, a professora apresenta detalhadamente os conflitos existentes durante os cinco anos de guerra.
Guerra contra o Paraguai
Neste vídeo, assista o historiador Eduardo Bueno contando a história da guerra contra o Paraguai, o maior conflito bélico travado no mundo entre 1815 e 1914, com exceção da guerra da secessão.
Gostou da matéria? Você sabia que, para aumentar o número do exército brasileiro durante o conflito, o imperador prometeu alforriar os povos escravizados que se alistassem? Isso contribuiu para que, após a Guerra do Paraguai, a oposição ao imperador aumentasse. Para saber mais, leia sobre o abolicionismo.
Referências
Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai (2022) — Francisco Doratioto
História da Guerra do Paraguay (1872) — Theodoro Fix
Genocídio americano: a Guerra do Paraguai (1979) — Júlio José Chiavenato